O TDAH (transtorno do déficit de atenção e hiperatividade) é um dos transtornos menos compreendidos pela sociedade. Apesar de ser amplamente discutido, ainda existem muitas concepções errôneas em torno do tema. Esse problema, além de não permitir que sejam feitos diagnósticos corretos, ainda leva a preconceitos sobre a condição.
Para os alunos que sofrem com TDAH, há diferentes técnicas de trabalho e acompanhamentos educacionais e psicológicos que ajudam (e muito) a ter um ótimo desempenho na escola sem comprometer a saúde mental.
Acolher e incentivar as crianças com TDAH é uma forma de fazer com que elas se sintam preparadas frente aos desafios escolares e amparadas frente às barreiras impostas.
“O Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH), é o transtorno mais comum em crianças e adolescentes encaminhados para serviços especializados'', conta Taciana Carvalho, coordenadora pedagógica do Ensino Infantil e Fundamental I da unidade Irmãs Vieira. De acordo com especialistas, atinge de 3% a 5% das crianças.
“O TDAH na infância se associa a dificuldades na escola e no relacionamento com demais crianças, pais e professores”, explica a coordenadora, fazendo um adendo de que pode ser difícil para essas crianças se aterem a regras e limites.
O psicólogo Alison Ribeiro, responsável pelo programa Eduque Emoções, explica que existem alguns sinais importantes para serem observados em relação ao TDAH: “Se a criança não presta atenção em detalhes da vida, do dia a dia ou ela comete erros por descuido nas tarefas escolares, tem dificuldade de manter atenção em tarefas ou atividades lúdicas, brincadeiras.”
É importante lembrar que este quadro não tem relação somente com a inquietude, mas também com a manutenção do foco. Alison comenta que “se essa criança frequentemente parece não escutar, se não segue instruções até o fim, não consegue fixar a sua atenção em determinadas tarefas, não gosta ou reluta de se envolver em tarefas que exige algum esforço mental prolongado”, é importante redobrar a atenção. Esses são alguns dos sinais de que há chances de um quadro de TDAH.
“Em relação a hiperatividade, é importante reconhecer se a criança fica se remexendo o tempo todo, batucando as mãos, os pés, se contorcendo na cadeira, se ela fica saindo do seu lugar o tempo todo, com muita intensidade, e se corre ou sobe nos móveis de uma forma muito agitada, muito impulsiva”, exemplifica Alison.
Esses são alguns sinais que apontam para a hiperatividade, então são sinais que os pais podem observar. Se estiverem com uma magnitude que vai além dos padrões de normalidade para desatenção e hiperatividade comum da infância, eles são orientados a procurar um profissional para fazer uma avaliação mais criteriosa e propor o tratamento”, explica o psicólogo.
De acordo com a Associação Brasileira do Déficit de Atenção, existe uma relação de desequilíbrio entre a região frontal do cérebro e o resto do órgão nas pessoas com TDAH. Essa região é a responsável por determinar foco, controle, memória, organização e planejamento.
Os neurotransmissores, que tornam possível a troca de informação entre as células, parecem ter um comprometimento em pacientes com TDAH. Na prática, significa que é um transtorno neurobiológico, em que a falta de substâncias essenciais dificulta o controle sob determinados processos nervosos.
O TDAH é uma condição hereditária e já surgiram muitos mitos sobre suas causas. Entre eles estão os corantes, deficiências minerais, ingestão de contaminantes na gestação e até problemas familiares e socioeconômicos. No entanto, explica a coordenadora Taciana, “os pesquisadores da área já refutam esta ideia, afirmando que problemas familiares podem agravar um quadro de TDAH, mas não causá-lo.”
Um ponto que deve ser lembrado é que não existe um típico paciente com TDAH. Apesar de ser mais notado na infância, vale relembrar que muitos adultos sofrem com a condição, principalmente por não terem tido diagnósticos precoces.
Existem comorbidades que ocorrem concomitantemente ao TDAH apesar de serem difíceis por si só. Muitas crianças que já sofrem com o déficit também enfrentam desafios com a dislexia e a discalculia.
No caso da dislexia, explica Taciana, “a dificuldade não está na concentração e quietude interior, mas no reconhecimento preciso e/ou fluente da palavra, na habilidade de decodificação e em soletração.”
Entre os fatores agravantes estão déficit da parte fonológica da linguagem e do processamento auditivo e visual da criança. A partir desse cenário, explica ela, “vêm as dificuldades de leitura, de compreensão de texto, do desenvolvimento do vocabulário e do conhecimento em geral. Também é um transtorno neurobiológico, e tem suas raízes em diferenças nos sistemas cerebrais responsáveis pelo processo fonológico e de associação de fonemas e grafemas.”
Já a discalculia é um transtorno de aprendizagem da área matemática. Nesse cenário, o aluno apresenta dificuldade em memorizar números, compreender processos matemáticos, quantificar grandezas e mensurar tempo e espaço. Tanto a mecânica dos exercícios quanto símbolos e números podem causar dificuldade ao aluno.
É importante lembrar que, assim como no caso do TDAH, esses déficits não advém de “falta de vontade” ou menor inteligência. O processamento de informações acontece de forma diferente, o que pode dificultar o aproveitamento das aulas.
Vanessa Bevitori, orientadora escolar do IASC, explica que o processo do diagnóstico é um processo multifatorial: ela conta que, com a presença da orientação escolar, como ocorre no IASC, há um acompanhamento próximo por parte da equipe.
Nesse contexto, diz ela, se o professor nota padrões relacionados ao TDAH em um aluno, ela fica alerta e comunica à família. A partir disso, pode ser feito um trabalho com psicólogo fora da escola.
“Eu acho importante a interação com a família”, diz Vanessa, “chamamos para uma conversa, mostramos para a família o que foi visto, os comportamentos. E a família vai ter a oportunidade de investigar e ajudar a criança naquele momento.”
Taciana reforça a mensagem de trabalho em equipe: "Se o professor notar alguma destas características durante seu convívio, deve informar à coordenação, a qual conjuntamente pensará ações para lidar da melhor forma com a questão”, diz. Isso envolve estratégias de ensino e adaptação para que o aluno possa ter eficiência e adequação para aprender. ”Com certeza envolve a participação da família, afinal a Escola é parceira no ofício de educar.”
A orientadora reflete sobre a importância dessa parceria, já que o TDAH não é um acontecimento isolado do ambiente escolar: “Esse é um trabalho que o psicólogo vai fazer fora da escola e que às vezes envolve muito mais frentes do que o ambiente escolar. É também o ambiente familiar, são as relações que o aluno tem fora da escola.”
De acordo com Alison, a busca pelo apoio psicológico é importante porque são feitas avaliações e investigações em torno do problema, levando a um diagnóstico mais adequado para cada criança, além de formas diferentes de lidar.
“No caso do TDAH, a família deve procurar um profissional de psiquiatria e um profissional de psicologia, de preferência um psicólogo infantil. No caso do transtorno específico de aprendizagem deve ser um psicólogo infantil e um psicopedagogo para promover o tratamento”, explica. E, em ambos os casos, os profissionais vão ajudar a diagnosticar e orientar a família sobre as melhores formas de tratamento e acompanhamento do quadro.”
Vanessa explica que, o aluno em geral, já tinha muito contato com a tecnologia, o que pode despertar quadros de estresse e ansiedade, além da falta de foco. “E a pandemia”, diz ela, “empurrou mais nesse sentido. Então ele pode desenvolver de forma muito pontual questões de déficit de atenção por conta do emocional.”
Ela explica que, ainda que o TDAH existisse antes da pandemia, o cenário de estresse e rápidas mudanças contribuiu para o aparecimento ou agravamento de sintomas em crianças.
Os três especialistas são unânimes em dizer que o principal é acolher as crianças e dialogar sobre o TDAH, a dislexia e a discalculia, sem ignorar as dificuldades. Taciana explica que “os riscos de não abordagem inicial, bem como em outras dificuldades de aprendizagem, é de mais demora no saber lidar da criança, não só na vida escolar, mas em sua própria vida.”
Ou seja, a criança não só enfrenta dificuldades na escola, mas também psicossociais, apresentando frequentemente quadros de estresse e burnout, sem entender o porquê de suas atitudes. Outro ponto importante é que essas dificuldades não somem com o tempo: pelo contrário, na vida adulta, se refletem como impulsividade, irritabilidade, dificuldades para relaxar e outros fatores que atrapalham a qualidade de vida.
Vanessa explica que há famílias que, na hora de inserir os filhos no ambiente escolar, optam por não inteirar a equipe pedagógica de um diagnóstico de TDAH, dislexia ou discalculia, acreditando que os alunos precisam de um “novo começo”.
O mesmo ocorre, por exemplo, quando o TDAH é percebido na infância, ainda no Ensino Fundamental, mas a família não busca tratamento psicológico adequado. “Já encontrei alunos que manifestaram dificuldades no Ensino Médio por causa da falta de organização decorrente do TDAH, mas esse quadro foi se agravando com o tempo.”
Outro ponto importante é a individualidade. Vanessa conta que já trabalhou com alunos com TDAH e alunos com dificuldades de aprendizagem, muitos com fatores em comum, mas que é importante atentar-se à individualidade e às demandas de cada um. Assim, podem ser pensadas estratégias de ensino que façam mais sentido para cada caso.
Já do lado da família, explica Alison, é importante cultivar a paciência. “Os pais devem ajudar essa criança a se organizar melhor, devem se comunicar com essa criança de uma forma mais clara, de uma forma mais autêntica, devem ajudar essa criança a planejar e organizar suas atividades de uma forma que ela desenvolva um nível maior de atenção.”
“Mas o principal é o acompanhamento psicológico, psiquiátrico e psicopedagógico para tratar e acompanhar adequadamente a criança”, conclui Alison.
Leia também sobre o papel da família no acompanhamento escolar!
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