Trabalhar a ideia de luto com as crianças é muito importante para que elas tenham apoio e estabilidade emocional. O papel da família e dos educadores é orientar a criança, para evitar traumas e respeitar o processo de entendimento e luto da criança.
Vanessa Bevitori, coordenadora de formação do IASC, explica que o cenário da pandemia afetou o convívio social e o diálogo em relação às perdas: "É raro você encontrar uma pessoa que não tenha pelo menos um amigo afetado pela doença”, conta ela. Além disso, as pessoas podem ter perdido entes queridos ou presenciado sequelas graves e momentos de incerteza ao seu redor.
Mais um motivo, de acordo com Vanessa, pelo que as conversas sobre luto se tornaram ainda mais essenciais: “existe todo um clima que remete o tempo inteiro à doença, ao vírus”. Com essa situação, além dos momentos de perda por outras circunstâncias, é comum que a criança e o adolescente enfrentem um impacto emocional ainda mais forte e persistente.
Mesmo antes da pandemia, as crianças e os adolescentes estavam sujeitos a passar por períodos de luto em relação às pessoas queridas. Por ser uma temática tabu, nem sempre a abordagem é a ideal.
Além disso, familiares e amigos também podem ficar enlutados e incapazes de processar corretamente seus sentimentos. Por isso, com a carga emocional abalada, os adultos podem não conseguir ajudar as crianças.
Para auxiliar as famílias da comunidade do IASC, trouxemos neste artigo dicas importantes:
De acordo com a Sociedade Brasileira de Pediatria, uma das dificuldades é que crianças, principalmente as menores, não compreendem a morte e a finalidade dela. “Se nos adultos, o luto costuma iniciar-se tão logo a morte acontece, para a criança, há um espaço de tempo em que ela costuma agir como se nada tivesse acontecido”, explica a instituição. “Somente com o passar do tempo e a percepção de que a pessoa não retornou que a criança percebe a gravidade da situação, vivenciando a dor da perda em seu luto.”
Cada faixa etária tem, em linhas gerais, uma compreensão diferente da morte e isso afeta a forma com que ela pode lidar com o luto. De acordo com os especialistas, há necessidade de se apoiar nessas ideias para abordar o assunto:
No momento de luto, os adultos podem não saber explicar para a criança que uma pessoa querida e próxima faleceu. Isso acontece não apenas pela falta de repertório da criança, mas também pelo estado emocional do adulto, em seu próprio luto.
A SBP reforça a importância de um diálogo honesto, mas adaptado para a idade. Crianças pequenas ainda não entendem a morte, mas podem ter em seu imaginário imagens de pessoas livres de sofrimento, de acordo com a crença e as visões da família. Caso ela consiga, por exemplo, pensar em um familiar no céu com outras pessoas queridas que já faleceram, vai entender melhor.
Para isso, é preciso que um adulto tenha um diálogo honesto, sem mentir para a criança nem a deixar desamparada. A dica da SBP é estar pronto para responder às perguntas, mesmo sem ter as respostas. “Uma conversa natural, sincera, abrindo espaço para falar sobre sentimentos, como saudade, tristeza, dor, medo, etc” afirmam os pediatras. “Falar é poder compartilhar sentimentos, sensações, fantasias. Conversar é uma forma de não estar sozinho!”
“Crianças vivem processos de luto como os adultos, necessitam de acolhimento e cuidado. Podem apresentar distúrbios de alimentação, sono e alterações de comportamentos na escola”, explica a Profa. Maria Júlia Kovács na revista de Psicologia da USP.
Ela também mostra que evitar dialogar com a criança é um erro: “A criança preocupada com o que percebe, busca nas pessoas à sua volta a confirmação de suas impressões. Fingir que está tudo bem fazendo com que as palavras comuniquem uma coisa, e o corpo expresse outra, pode instalar um sentimento de incerteza, dúvida e isolamento.”
Durante esse período, é ainda mais essencial que a família entenda as dificuldades emocionais e práticas da criança e seja aberta a falar sobre elas, evitando culpá-la por ter dificuldades na rotina e/ou na escola.
O mesmo vale para o período antes do falecimento. Em casos de familiares doentes, em condições graves, pode ser difícil parar para dialogar com a criança sobre os sentimentos e incertezas. Com a sobrecarga emocional nos pais, a criança enxerga o reflexo da dor e não se sentirá confortável em dividir dificuldades se não se sentir ouvida.
Mesmo que possa parecer difícil, é importante lembrar com amor e carinho da pessoa que faleceu. Como é uma pessoa querida na vida da criança, esse processo auxilia a lembrá-la dos bons momentos que passaram juntas.
Outro ponto importante é que as crianças, frente à morte, passam a ter sentimentos de abandono, medo de serem esquecidas ou que pessoas que faleceram não sejam mais lembradas. Então, tirar esse momento para homenagens é importante para reconhecer o impacto da pessoa na vida de todos ao seu redor.
Se for possível, permita que a criança participe de velório, enterro ou outras cerimônias para que ela faça parte dos rituais. Garanta que ela tenha um adulto que possa acompanhá-la e, caso ela tenha dificuldade de processar sentimentos, converse com ela.
Se não for possível, encontre uma forma de incluir a criança em rituais, como visitar túmulos para deixar flores, participar de missas de homenagem, etc. Dessa forma ela terá oportunidade de processar junto a outros entes queridos.
Usar recursos como livros e filmes pode tornar o diálogo mais fácil e abrir oportunidade para a criança entender o processo. “O pato, a morte e a tulipa”, livro de Wolf Erlbruch, é muito usado ao redor do mundo para falar, metaforicamente, sobre a perda. A história também está disponível em animação.
Filmes infantis como “Up - altas aventuras” e “O Rei Leão” são comumente indicados para abordar de forma mais próxima das crianças a temática da morte e das emoções associadas a ela, em uma linguagem compreensível e adequada.
Para filhos mais velhos e com melhor compreensão da morte, o livro “Íris” é um espaço para entender os sentimentos que os familiares vivem durante o luto.
É sempre possível a criança ou o adolescente se beneficiar de conversas com profissionais de saúde mental. Mas durante o luto, isso se manifesta de forma ainda mais clara.
É comum que, em meio a tantos sentimentos, a criança desenvolva mudanças no estilo de vida, comportamentos agressivos, falta de sono e apetite, desinteresse em atividades de lazer, etc.
Esses sintomas, ainda que comuns na situação, podem ser manejados quando a criança tem um espaço seguro para falar sobre seus sentimentos com um profissional preparado para ajudá-la. Os psicoterapeutas especializados em luto infantil têm as ferramentas e a prática para deixar a criança confortável e ajudá-la a processar o luto de uma forma que faça sentido para ela.
Para que a criança se sinta preparada para explorar seus sentimentos em relação ao luto, é essencial que os adultos ao seu redor estejam preparados para ouvi-la e entender o momento que ela está passando.
Nem sempre as famílias conseguem ter o emocional preparado, já que elas também estão vivenciando o luto. Nesse sentido, a escola busca ser parceira em auxiliar a proteger a saúde mental: “O professor percebe que algo está afetando o aluno e conversa com a orientação”, explica Vanessa. “Esse é o momento de aproximação, de oferecer ajuda. De oferecer o ombro amigo. Com a pandemia não temos o toque, mas acolhemos da melhor forma possível.”
Ela frisa a importância da empatia e da solidariedade entre as crianças também: “é um carro-chefe desse processo”. Criar um ambiente de acolhimento na vida da criança em luto é o primeiro passo para que ela se sinta mais preparada para vivê-lo.
Leia mais sobre o papel da escola na saúde mental dos alunos!
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